Descobrindo a Filosofia II
A reflexão filosófica
O que é filosofia?
Antes
de respondermos a essa pergunta, vamos partir para outro questionamento: o que
é filosofar? De maneira geral, pode-se dizer que, por sermos pessoas racionais
e sensíveis, procuramos sempre atribuir sentido às coisas. A esse filosofar
espontâneo de todos nós poderíamos chamar filosofia de vida.
Então
as questões filosóficas fazem parte do nosso cotidiano? Fazem sim. Quando decidimos
votar no candidato de um partido político e não de outro; quando deixamos o
emprego bem pago por outro não tão bem remunerado, se bem mais atraente; quando
alternamos a jornada de trabalho com a prática de esporte ou com a decisão de
ficar em casa assistindo à tevê; quando investimos na educação de nossos
filhos, e assim por diante. É preciso reconhecer que existem critérios bem
diferentes fundamentando tais decisões.
A
propósito desse assunto, o filósofo italiano Antonio Gramsci diz: “não se pode
pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense,
precisamente por que pensar é próprio do homem como tal”.
A
filosofia de vida não se confunde com o tipo de reflexão do filósofo, porque este
conhece a história da filosofia e sempre levanta problemas que tenta resolver
por meio de argumentos e conceitos rigorosos, que vão além do simples bom
senso, além do que chamamos filosofia de vida.
Talvez
você esteja se perguntando: como então definir o que é filosofia? Comecemos por
uma citação do filósofo alemão contemporâneo Edmund Husserl:
“O que pretendo sob o título de filosofia, como fim e campo
das minhas elaborações, sei-o, naturalmente. E contudo não o sei... Qual o
pensador para quem, na sua vida de filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?...
Só os pensadores secundários que, na verdade, não se podem chamar filósofos,
estão contentes com as suas definições”.
O que
Husserl quer dizer? Que a pergunta “O que é a filosofia?” desencadeia por si
mesma uma questão filosófica. Ainda assim, os pensadores arriscam dar
respostas, sabendo que são sempre provisórias, porque se aproximam do conceito
de filosofia de modo tateante para examinar suas características.
Pitágoras
(século VI a.C.), um dos mais antigos pensadores gregos, teria usado pela
primeira vez a palavra filosofia (philo-sophia), que significa amor à
sabedoria. Por essa razão, a filosofia não é pura racionalidade, mas a procura
amorosa da verdade.
Muitos
identificam a filosofia como uma atividade racional e teórica, mas isso não significa
que ela esteja à margem do mundo, nem que constitua uma doutrina, um saber
acabado, ou que seja um conjunto de conhecimentos incontestáveis.
Pelo
contrário, a filosofia pressupõe constante disponibilidade para a indagação.
Por isso, segundo Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se, ser
capaz de se surpreender com o óbvio e questionar o que já existe como verdade.
Essa é a condição para problematizar, o que marca a filosofia não como posse da
verdade, e sim como sua busca.
Kant,
filósofo alemão do século XVIII, assim se refere ao filosofar:
“(...) não é possível aprender
qualquer filosofia; (...) só é possível aprender a filosofar, ou seja,
exercitar o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em
certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o
direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes,
confirmando-os ou rejeitando-os” (KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São
Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 407.)
Podemos
dizer então que filosofia é sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É uma
experiência diferente de um olhar sobre o mundo, no sentido de sempre
questionar o já sabido.
Continua...
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